segunda-feira, 14 de maio de 2007

Sabe qdo alguém escreve exatamente o que vc sente???

(...) É claro que, às vezes, eu dizia q estava deprimida, e qdo elas me perguntavam "mas por quê?", e eu lhes contava a respeito de um namorado infiel, ou um dia ruim no trabalho, ou ñ conseguir entrar na saia q comprara no verão passado, elas se mostravam mais do q solidárias.
Mas ñ imaginavam que, às vezes, eu ficava deprimida com "D" maiúsculo. Daniel era uma das poucas pessoas fora da minha família q realmente sabiam.
Eu tinha vergonha de me sentir assim. As pessoas achavam q a depressão era uma doença mental e que, em conseqüência dela, eu era uma doida completa com quem precisavam falar bem devagar e de quem era melhor se manter longe. Ou, mais freqüentemente, achavam q ñ existia essa história de depressão, e tudo era apenas um conceito vago e neurótico. A versão atualizada da pessoa que "sofre dos nervos", q todo mundo considerava como "uma pessoa que sente pena de si mesma, sem motivos". Ou achavam q eu estava simplesmente de frescura, entregando-me a alguma ansiedade adolescente q já passara totalmente da data de validade. E q tudo o q eu tinha de fazer era simplesmente "me controlar", "sair fora dessa" e "levar a vida na esportiva".
Eu conseguia entender essa atitude, pq todo mundo fica deprimido de vez em qdo. Faz parte da vida, faz parte do pacote, dias ensolarados e outros com dor de ouvido.
As pessoas ficam deprimidas por causa de dinheiro. Coisas desagradáveis aconteciam com as pessoas. E as pessoas se sentiam péssimas a respeito dessas coisas.
Eu sabia de tudo isso, mas a depressão q me acometia ñ era uma crise ocasional de tristeza, ou uma dose da insatisfação brava do tipo Holly Golightly, embora eu tb sentisse essas coisas, aliás, com freqüência. Mas tb um monte de gente sente isso, especialmente se tiver bebido muito e dormido pouco a semana inteira, mas esse tipo de tristeza e de insatisfação brava era coisa de criança se comparado com os demônios negros e os assassinos que desciam sobre mim de vez em quando para brincar de crucificar a minha cabeça.
A minha não era uma depressão comum, ah, não, a minha era o modelo super, de luxo, top de linha, versão completa.
Não que isso parecesse óbvio de imediato na 1ª vez em q a pessoa me via. Eu ñ me sentia podre o tempo todo. Na verdade, durante boa parte do tempo eu era brilhante, envolvente e tinha personalidade marcante. Mesmo qdo me sentia terrível, fazia força para ñ aparentar. Só qdo as coisas começavam a ficar tão desesperadoras q já ñ davam para esconder é q eu me enfiava na cama por um período q variava de dois dias a uma semana, e esperava aquilo passar. O q invariavelmente acontecia, mais cedo ou mais tarde.

(...)

Tinha dezessete anos e então, sem motivos, a não ser os óbvios, enfiei na cabeça a idéia de que o mundo era um lugar mt triste, solitário, injusto, cruel e doloroso.
Ficava deprimida por causa das coisas q estavam acontecendo com pessoas de recantos longínquos do mundo, gente que ñ conhecia nem, provavelmente, viria a acontecer, ainda mais se considerarmos q o motivo principal de eu me sentir daquele jeito era o fato de eles estarem morrendo de fome, ou de alguma praga contagiosa, ou pelo fato de q a sua casa lhes tinha caído por sobre a cabeça durante um terremoto.
Chorava diante de qq notícia q visse ou ouvisse....
Era horrendo. Eu sentia como se estivesse envolvida pessoalmente com cada foco de tristeza q havia no mundo. Era como se eu tivesse uma rede mundial de dor dentro da cabeça, uma rede maior do q a Internet, e cada átomo de pesar q já havia existido estivesse sendo canalizado através de mim, antes de ser empacotado e enviado a diversas áreas, como se eu fosse a centralizadora da miséria humana.
Eu tinha uma admirável capacidade de localizar uma tragédia, por menor que fosse, em qq lugar, e conseguia chorar até mesmo diante da descrição de pequenos bulbos de flores que morriam sob as nevascas, no inverno...
Finalmente, o doutor Thornton foi chamado. Ele diagnosticou depressão e - surpresa, surpresa! - me prescreveu antidepressivos.
Depois de algum tempo, comecei a me sentir melhor. Não feliz, nem nada do tipo...
Depois de quatro meses, o Dr. Thornton disse q já era hora de eu parar de tomar os antidepresivos...
A essa altura eu já começara as aulas de secretariado e readquirira a fé no futuro, ainda que fosse de forma frágil.
Novos horizontes se abriram com o curso.
Jamais me ocorreu q talvez eu devesse ter feito alguma outra coisa na vida. Por mt tempo, achei q era uma honra tão grande ter a chance de fazer treinamento para secretária q nem sequer percebi o qto aquilo me entediava. E msm q eu tivesse percebido o qtp aquilo me entediava ñ teria conseguido escapar...

(...)

Assim, qdo parei de tomar antidepressivos e fui estudar secretariado, minha depressão ñ voltou com toda fúria, mas tb ñ foi embora de vez. E, por estar morrendo de medo de ficar deprimida novamente, eu, q ñ queria + tomar remédios, dediquei a minha vida a encontrar as melhores formas de manter a nuvem escura a distância, au naturel.
Queria banir por completo a depressão da minha vida, ma stive de me contentar em deixá-la represada, constantemente reforçando minhas trincheiras emocionais.
Desse modo, junto com a natação e a leitura, combater a depressão se transformou em um hobby.
Eu lia tudo o q caía em minhas mãos a respeito do assunto "depressão", e nada me levantava mais o astral do q uma história boa e suculenta sobre alguém famoso q sofria horrores por causa dela.
Eu estava em companhia de gente mt importante.

CASÓRIO?! - Marian Keyes

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